quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

E O TEMPO PASSA

O sol está lindo lá fora. A paisagem que vejo na varanda da minha casa me inspira, e não demora muito para que eu pegue o papel e lápis e comece a escrever o que a natureza suavemente me dita.

Agradeço, me emociono, contemplo o belo e medito.

Mal dou início à primeira frase, quando observo Spike deitado em sua cama, num sono profundamente sereno. No mesmo instante retorno ao passado, lembrando de toda sua energia. Ah! Quanta disposição. Uma simples batida de mão, já era suficiente para ele vir correndo de onde estivesse para dar fé do que estava acontecendo.

Foi-se o tempo em que ficava na frente da porta do lavabo avisando que queria tomar água na pia, ou então, sentado levantando as patinhas pedindo alguma coisa. Volta e meia pegando os panos que encontrava no caminho, subindo na cama para dormir ao meu lado, ou colocando a bolinha no meu pé avisando que queria brincar…

Hoje sua visão está comprometida, o som que escuta está ficando cada dia que passa mais longe, os movimentos estão enfraquecendo… A velhice chegou. Nós envelhecemos. Essa é a lei da vida, mas é a certeza que demoramos a aceitar.

Acredito que o mundo em que vivemos é apenas uma passagem, e compreendo que tudo tem seu tempo e cada ser tem este tempo para evoluir. Acredito na alma dos animais, como dizia o saudoso veterinário espírita Marcell Benedett no seu livro “TODOS OS ANIMAIS MERECEM O CÉU”.

Mas antes de sofrer por antecipação, imaginando isso ou aquilo, prefiro curtir com mais zelo e atenção meu grande amigo, que mais uma vez está por me ensinar coisas. Estamos aprendendo sempre.

Aprendendo que a paciência é fundamental em tudo. Que ajudar a reerguer quando alguém tropeça é o mínimo. Que um olhar diz tudo. Que amor demais, nunca será demais.

O que sei é que tenho que dar a ele toda a atenção e carinho, pois agora mais que nunca precisa de mim. Preciso ser seu guia, pois já não enxerga os objetos em seu caminho. Ajudo a erguer suas patas traseiras para subir alguns degraus, pois já não tem firmeza suficiente. Dou muitas vezes comida em sua boca, e se isso é alguma manha, não tem menor importância, faço as suas vontades mesmo. Passo malva em sua boca para amenizar o hálito. Faço massagens quando percebo algum desconforto…

Se exagero na dedicação? Tenho certeza que não. Apenas faço o que meu coração manda, e ele sempre me mostrou que devemos nos simples gestos externar nosso amor e gratidão pelos amigos que encontramos nesta nossa jornada.

E assim vamos seguindo nosso caminho, andando lado a lado, aprendendo sempre.

Beijo carinhoso e uma boa semana

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

LIBERDADE

Sempre fui sonhadora, e por várias vezes me imaginei com asas para poder voar. Algumas vezes tive sonhos maravilhosos, onde conseguia sentir o frio na barriga, o vento, e a sensação de liberdade que vôo me proporcionava. Um dos primeiros livros que li quando pequena foi Fernão Capelo Gaivota de Richard Bach. Ele falava justamente da liberdade. Liberdade dos pássaros alçarem seus vôos, numa comparativa também com a forma que levamos nossa vida. Um livro que nos alerta a abrir os olhos para a liberdade que só o conhecimento pode trazer.

Penso então nos pássaros com suas lindas asas e impossibilitados de voar presos em gaiolas. O interessante é que mesmo assim ainda conseguem cantar.

Uma vez Nicolle ganhou de um amigo nosso um periquito. Fiquei com pena desse meu amigo que feliz da vida estava presenteando minha filha, mas avisei que na gaiola ele não ficaria. Durante três semanas ficou solto, e voava para todos os cantos da nossa casa. Cantarolava muito e um dos lugares que ele mais gostava de ficar era na pitangueira em frente à janela da sala. Um dia alçou um vôo maior, e nunca mais voltou. Se agi certo ao deixá-lo solto? Não sei. O que pensei foi que se estivesse no lugar daquela ave teria preferido dar um único vôo na vida, ao invés de nunca ter sentido o prazer de voar. Este era seu dom.

Sinceramente não acho justo. Prefiro admirar o beija-flor que entra voando pela janela da minha casa e eu cuidadosamente pego em minha mão levando-o até a varanda para vê-lo sair voando novamente. Prefiro admirar os papagaios com suas constantes conversas enquanto voam de árvore em árvore toda manhã. Prefiro escutar os sagüis que passam em fila pulando de galho em galho com seu assovio alto e uníssono. Tucano, bem-te- vi, pica-pau… Ah! Este mesmo, acreditem, é maluquinho igual aquele do desenho animado. Cavalos correndo no amplo picadeiro na divisa com meu terreno…

É a liberdade que eu admiro, e vejo que esta é a beleza da vida, cada um respeitando a natureza do outro.

Penso também nos pobres animais de circo. Comecei meu protesto boicotando circos com animais quando Nicolle tinha seis anos de idade. Quando aparecia um circo na cidade, atração que encanta toda criança, eu explicava minha posição e ela entendia. Aos poucos foi absorvendo minhas atitudes em relação aos animais e foi tomando consciência da responsabilidade que nós homens temos com a natureza. Foi entendendo que animais selvagens não merecem o confinamento das jaulas.

Lindos animais vivendo fora de seu habitat natural conhecendo apenas o caminho da jaula para o picadeiro, do picadeiro para jaula. E a liberdade? Qual o crime que cometeram? E estamos nós, felizes, aplaudindo, esperando o momento do show, e não sabemos o quanto sofreram antes de conseguirem encantar a platéia. Isso não é justo.

Várias matérias em jornais, revistas, TVs, mostram diariamente ataques dos animais contra seus treinadores em parques e circos. Ora, se tolhem a liberdade que tem em viver em harmonia com a natureza, reduzem significativamente o espaço que antes tinham, por mais domesticados que possam parecer, é lógico que o comportamento dos bichos é alterado e a conseqüência disso são os constantes ataques provocados por puro stress. Mas a imagem que fica é a de que os animais são perigosos e violentos, e não a verdadeira imagem de que o homem é o único ser responsável por isso.

Estamos destruindo a natureza e sem perceber nos destruindo. Precisamos constantemente provar que temos isso ou aquilo, que vimos isso ou aquilo, que compramos isso ou aquilo. Se nos espelhássemos nos animais, talvez pudéssemos entender sua natureza livre. Livre de rótulos, livre de preconceitos, livre de escolhas. Livres para acreditarmos nos nossos sonhos e assim alçarmos nosso verdadeiro vôo.

Beijos,

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

MUDANÇAS



Meses atrás ao abrir meus emails, recebi um de uma família que estava doando seus dois cachorros. Eram duas cadelas, uma da raça Cocker Spaniel, e a outra uma Pastora Belga, ambas com seis anos de idade.
No e-mail falava o quanto elas eram dóceis, amigas, que gostavam de crianças. O motivo da doação era porque estavam se mudando para um apartamento.
Quando resolvemos adotar ou comprar um animal de estimação temos que ter a responsabilidade e consciência que seremos as pessoas de maior valor para eles, afinal não são objetos que quando não tem mais serventia são descartados. São seres que tem os mesmos sentimentos que nós. Sofrem muito com separações. E como sofrem!
Sei que muitas vezes por muitas questões passamos por momentos de mudanças, e temos que arranjar um meio de nos adaptarmos.
Algumas pessoas alegam falta de tempo, outras de espaço. Algumas encontram dificuldades em lidar com a energia em excesso de cães que ainda são crianças e acabam destruindo coisas.
Às vezes tenho até que admitir, que muitos animais ficam agradecidos de poder conhecer outro lar, mas não era o caso desta família com a qual eu havia recebido o email. Pelo menos foi o que pude perceber.
Olhei bastante as fotos das cachorrinhas, parei, pensei muito, e resolvi fazer a minha parte.
Mandei então um email de resposta, que a fizesse refletir um pouco, e ponderasse, pensando na atitude que estava prestes a ser tomada. Pensei que talvez minhas palavras pudessem ajudar a mudar o rumo dessa história e as cachorrinhas permanecessem com eles.
Se ajudei, eu não sei. Não recebi retorno algum.
Este é apenas um dentre tantos casos como este que acontecem diariamente.
Sei que problemas aparecem sem que a gente queira, e acredito que no caso desta família em questão, pode até ser que tenham feito força para não precisar doá-las. Mas no fundo penso, que quando queremos mesmo, conseguimos. Vejo pelo meu caso. Também precisei me mudar anos atrás da casa onde morava, e não sosseguei enquanto não arrumei um edifício que aceitassem cachorros. Minha vida mudou? Lógico que sim. Tinha a preocupação de passear mais vezes durante o dia com Spike, na época ainda com a energia e vitalidade de um labrador com quatro para cinco anos. Isso não foi o fim do mundo. Apenas nos adequamos aquele momento.
Hoje moro em uma casa, mas se precisasse, com toda certeza, faria tudo outra vez. Afinal, entendo que uma relação de amizade e amor que construímos com nossos amigos não pode ser quebrada desta maneira.

Beijinho e boa semana!