sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

LIBERDADE

Sempre fui sonhadora, e por várias vezes me imaginei com asas para poder voar. Algumas vezes tive sonhos maravilhosos, onde conseguia sentir o frio na barriga, o vento, e a sensação de liberdade que vôo me proporcionava. Um dos primeiros livros que li quando pequena foi Fernão Capelo Gaivota de Richard Bach. Ele falava justamente da liberdade. Liberdade dos pássaros alçarem seus vôos, numa comparativa também com a forma que levamos nossa vida. Um livro que nos alerta a abrir os olhos para a liberdade que só o conhecimento pode trazer.

Penso então nos pássaros com suas lindas asas e impossibilitados de voar presos em gaiolas. O interessante é que mesmo assim ainda conseguem cantar.

Uma vez Nicolle ganhou de um amigo nosso um periquito. Fiquei com pena desse meu amigo que feliz da vida estava presenteando minha filha, mas avisei que na gaiola ele não ficaria. Durante três semanas ficou solto, e voava para todos os cantos da nossa casa. Cantarolava muito e um dos lugares que ele mais gostava de ficar era na pitangueira em frente à janela da sala. Um dia alçou um vôo maior, e nunca mais voltou. Se agi certo ao deixá-lo solto? Não sei. O que pensei foi que se estivesse no lugar daquela ave teria preferido dar um único vôo na vida, ao invés de nunca ter sentido o prazer de voar. Este era seu dom.

Sinceramente não acho justo. Prefiro admirar o beija-flor que entra voando pela janela da minha casa e eu cuidadosamente pego em minha mão levando-o até a varanda para vê-lo sair voando novamente. Prefiro admirar os papagaios com suas constantes conversas enquanto voam de árvore em árvore toda manhã. Prefiro escutar os sagüis que passam em fila pulando de galho em galho com seu assovio alto e uníssono. Tucano, bem-te- vi, pica-pau… Ah! Este mesmo, acreditem, é maluquinho igual aquele do desenho animado. Cavalos correndo no amplo picadeiro na divisa com meu terreno…

É a liberdade que eu admiro, e vejo que esta é a beleza da vida, cada um respeitando a natureza do outro.

Penso também nos pobres animais de circo. Comecei meu protesto boicotando circos com animais quando Nicolle tinha seis anos de idade. Quando aparecia um circo na cidade, atração que encanta toda criança, eu explicava minha posição e ela entendia. Aos poucos foi absorvendo minhas atitudes em relação aos animais e foi tomando consciência da responsabilidade que nós homens temos com a natureza. Foi entendendo que animais selvagens não merecem o confinamento das jaulas.

Lindos animais vivendo fora de seu habitat natural conhecendo apenas o caminho da jaula para o picadeiro, do picadeiro para jaula. E a liberdade? Qual o crime que cometeram? E estamos nós, felizes, aplaudindo, esperando o momento do show, e não sabemos o quanto sofreram antes de conseguirem encantar a platéia. Isso não é justo.

Várias matérias em jornais, revistas, TVs, mostram diariamente ataques dos animais contra seus treinadores em parques e circos. Ora, se tolhem a liberdade que tem em viver em harmonia com a natureza, reduzem significativamente o espaço que antes tinham, por mais domesticados que possam parecer, é lógico que o comportamento dos bichos é alterado e a conseqüência disso são os constantes ataques provocados por puro stress. Mas a imagem que fica é a de que os animais são perigosos e violentos, e não a verdadeira imagem de que o homem é o único ser responsável por isso.

Estamos destruindo a natureza e sem perceber nos destruindo. Precisamos constantemente provar que temos isso ou aquilo, que vimos isso ou aquilo, que compramos isso ou aquilo. Se nos espelhássemos nos animais, talvez pudéssemos entender sua natureza livre. Livre de rótulos, livre de preconceitos, livre de escolhas. Livres para acreditarmos nos nossos sonhos e assim alçarmos nosso verdadeiro vôo.

Beijos,

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